De idade desconhecida e visivelmente avançada, Erico Nielski fuma um cachimbo, balança sua cadeira e confere as últimas do Twitter no seu iMac. Habitante do bairro Pinheirinho, vive em Criciúma desde a sua chegada ao Brasil. E isso faz tempo, muito tempo.
Sua rotina é interrompida por nossa equipe. “Vocês querem saber sobre a Copa de 1946, né? Esses moleques nunca aprendem! Dolores, pega um chá pra eles”. Seu Erico lê o Twitter e dá risada dessa geração.
Blog O Mundo Delirou: Dr. Nielski, é uma honra estar ao lado de uma lenda viva do futebol. Explique-nos como e quando começou sua empatia com a redonda.
Erico Nielski diz que sua empatia com a redonda é coisa antiga. Ele era piá lá em Gdańsk (Polônia) e juntava a turma pra jogar polacobol, um esporte muito popular na época, meio rugby meio críquete com características de caxeta, duas traves, um monte de gente e uma bola. Ele diz ainda que foram os polacos, que inventamos o verdadeiro futebol. Pelo menos o verdadeiro futebol feio.
Dr. Erico tava com tudo pra jogar a Copa de 46, que seria na Polônia. Tinha até convencido o Zbigniew Chudziekiwicz, o treinador, a escalar. Aí o do bigodinho lá da Áustria apareceu e encarcerou todo mundo. Até que um dia o time da SS foi bater bola com um combinado de Auschwitz. E nós, num regime de grande concentração, enfiamos 4 X 1. Fiz dois gols, um de letra e outro de bunda, pena não ter isso no You Tube, jovem...
O jovem Nielski (no centro) divide cabeçada com Himmler no histórico Auschwitz 4x1 SS
B.O.M.D: Mas a turma lá não quis teu couro depois disso?
E.N: Quiseram, mas aquele nazista da cara mijada (Goebbels) mandou o Adolfo me convocar pra Alemanha. Deram arrego pra mim, minha companheira Dolores e outros craques do combinado. Na primeira chance a gente fugiu, pegamos trem, mula, barco, caiaque, navio e quando menos percebi tava aqui no Pinheirinho. História bonita né?
B..M.D: Impressionante. E o que o sr. achou do futebol jogado aqui no Brasil?
E.N: Assim que chegamos em Criciúma lá por 1940... e sei lá quantos, percebi que o jogo era todo errado. Não me conformei e fiquei 2 anos em casa decorando os livros da da Bibliex (Biblioteca do Exército), que são uma lição de vida.
Nielski possui o único exemplar do cartaz original da Copa de 1942 que seria na Polônia, mas foi cancelada
B.O.M.D: Mas o sr. se rendeu e uniu a turma para fundar um time de futebol, não é verdade?
E.N: Se render? Jamais! Eu queria montar um time que jogasse o verdadeiro futebol polonês. Aquele que humilhou os nazistas, mas que ninguém viu. Até que eu fui na casa de uns amigos que tinham loja lá no centro e criamos o Comerciário. Eu queria um nome polonês, mas aquela italianada lá não deixou. Pelo menos o nome do time não virou Galinha com Polenta, como sugeriram uns.
B.O.M.D: E sobre as Copas do Mundo, o que o senhor pode nos dizer?
E.N: Olha meu filho, vi de tudo um pouco... Mas até hoje não esqueço de craques como Lato e Zmuda derrubando o timinho do Zagallo lá na Copa da Alemanha. E te asseguro, se a Polônia tivesse enfrentado a Holanda naquela final, o Carrossel ia virar Ferro Velho.
Erico Nielski ilustrou o manual de regras oficial do polacobol, folheto que ainda guarda com muito carinho e nostalgia
B.O.M.D: Tá, mas vem cá, sobre o Brasil o senhor não tem nada a dizer não?
E. N: Até tenho viu... mas de Brasil todo mundo dá pitaco. Eu quero dizer o seguinte aí pra juventude: vocês não sabem nada! Em 1966, eu já tinha cabelo branco e dizia que aquele time comunista lá da Coreia do Norte ia incomodar. E digo o mesmo hoje! Todo mundo é igual, jogam igual, o nome de um é o sobrenome do outro. Esses filhotes de Mao são ardilosos.
B.O.M.D: Tá, mas eles sabem jogar bola?
E.N: E quem é que sabe meu filho? Com exceção do Pelé, do Boniek e do Biro-Biro, pouca gente sabe jogar...
B.O.M.D: Quem são seus favoritos pra Copa?
E.N: Além da Coreia do Norte? A Grécia, que vai lutar na Copa pra ganhar o bicho e pagar as contas atrasadas. O Uruguai vem forte também. Sempre que as Coreias estão em guerra, a Celeste ganha a Copa do Mundo – tá certo que isso só aconteceu uma vez, mas sou meio supersticioso.
B.O.M.D: E o que o senhor acha do Dunga?
E.N: Um grande treinador. Respeita como poucos a tradição do futebol polonês.
B.O.M.D: Muito obrigado sr. Nielski. Boa sorte aí nas suas apostas para a Copa, o senhor vai precisar. E sorte também pro seu Criciúm.. ops, Comerciário, mas aí é preciso bem mais que sorte.
E.N: Muito obrigado. Nos encontramos pela internet aí na Copa, pois vou tuitar geral. Mas fique tranquilo que nesse ano o Comerciário vai arrebentar na Terceirona. A Libertadores que nos aguarde de novo em 2017!
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