Em 1998, quem saiu correndo da banca de jornais para casa com o álbum da Copa do Mundo levou um incômodo susto ao se deparar com essa mensagem na página 49, correspondente à seleção do Irã. “Atenção: não há cromos nesta página.”
A seleção iraniana era uma das três daquele álbum com espaço reduzido: página única e figurinhas duplas para os jogadores. No entanto, diferente das páginas referentes a Estados Unidos e Jamaica, a página da equipe asiática estava vazia, apenas com os nomes dos jogadores. Não havia foto do time posado ou emblema. Os espaços das figurinhas nem sequer traziam números.
Mas por que não havia figurinhas do Irã no álbum da Copa do Mundo de 1998? O que aconteceu?
Para tentar chegar a respostas, o jornalista do Última Divisão procurou por e-mail os principais envolvidos nessa história: a Panini, responsável por publicar o álbum oficial em todo o mundo, e a Federação de Futebol da República Islâmica do Irã (FFIRI). A Panini do Brasil informou via assessoria de imprensa que não se pronunciará sobre o assunto, enquanto a FFIRI não respondeu nossos contatos.
“Atenção: não há cromos nesta página.” |
Quem explica é o pesquisador Greg Lansdowne, referência mundial em álbuns de figurinha de futebol. Autor de livros como Stuck On You: The Rise and Fall…and Rise of Panini Stickers (2015) e Panini Football Stickers: The Official Celebration – A Nostalgic Journey Through the World of Panini (2021), Lansdowne explicou também por e-mail que a editora italiana não conseguiu garantir a licença com os iranianos a tempo de imprimir a coleção.
“Eventualmente, foi alcançado um acordo pelo qual uma editora do Reino Unido foi autorizada a produzir uma folha de figurinhas do Irã, sob licença da Panini, com este aviso: ‘O uso de fotografias não implica endosso da Associação Iraniana de Futebol ou de jogadores individuais'”, explica o pesquisador no livro de 2021.
Vale destacar que o livro ilustrado também não contava com figurinhas de três jogadores da Inglaterra: Tony Adams, Les Ferdinand and Robbie Fowler. Mas os colecionadores ingleses não ficaram sem as figurinhas.
“Seus agentes inicialmente procuraram negociar acordos separados de direitos de imagem para as figurinhas”, explicou Lansdowne no e-mail. “Isso significava que suas figurinhas não estavam disponíveis em pacotes, mas apareciam em folhas gratuitas distribuídas em jornais e para encomenda como uma figurinha ausente na época.”
Afinal, as figurinhas existem?
As figurinhas existem e estão à venda na internet. Mas quem procura pelos cromos do Irã para completar o álbum da Copa de 1998 encontra diferentes versões, o que gera uma natural desconfiança. Os mesmos jogadores aparecem em diferentes poses e diferentes uniformes.
É golpe? A resposta é: provavelmente não.
Assim como aconteceu na Inglaterra, outros países também conseguiram acordos locais para imprimir e distribuir versões das figurinhas do Irã. Foi o que aconteceu na Itália, onde uma folha com os cromos circulou com a revista Guerin Sportivo.
Na versão italiana, as figurinhas tinham diferentes imagens dos jogadores e o distintivo impresso em fundo prateado, assim como os demais distintivos. Na Inglaterra, para efeito de comparação, o escudo iraniano vinha sobre fundo branco.
Por isso, colecionadores ingleses e italianos conseguiram mais figurinhas que os demais países. Mas com uma versão exclusiva para os próprios mercados.
Ou seja: se você comprar as figurinhas do Irã de 1998 na internet, tem boas chances de comprar produtos pelo menos idênticos aos que circularam em algum mercado. O risco é que alguém tenha usado imagens originais para falsificar as figurinhas.
Outras peculiaridades
Quem folheia o álbum da Copa de 1998 já deve ter reparado que as figurinhas de algumas seleções foram apenas algumas montagens de qualidade bem duvidosa.
São os casos de Marrocos, Chile e Nigéria. Nos três casos, os jogadores aparecem sobre fundos genéricos, com uniformes que se identificam com as respectivas seleções apenas pelos uniformes. Não há figurinhas de distintivos (substituídos por bandeiras) e times posados.
O caso é semelhante ao da Inglaterra: as equipes deram permissão à Panini para aparecerem no álbum, mas sem licença para uso de nenhuma marca ligada à seleção. Assim, ainda de acordo com Lansdowne no livro Panini Football Stickers: The Official Celebration – A Nostalgic Journey Through the World of Panini, “foram retratados casacos de agasalhos sem logotipos, enquanto não havia time posado e a figurinha brilhante era da bandeira nacional em vez da associação nacional de futebol”.
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