Um trabalho de adestramento bem feito tem como resultado cavalos submissos sem sofrimento. O animal passa a executar os comandos que lhe são solicitados, e o faz por vontade própria.
Figura 01 - Acessórios para o Cavaleiro. |
O cavalo deve ser escovado, preferencialmente, todos os dias, passando-se a escova na cauda, na crina e na cabeça, sempre na direção dos pelos. Além de aproximar ainda mais o homem do cavalo, é o que faz o pelo se manter sempre com brilho. Este manejo de higiene diária é usado em animais que vivem estabulados.
O casco deve ser limpo diariamente pois o acúmulo de cama, fezes e urina na sua sola, pode ocasionar problemas graves como a necrose de ranilha, por exemplo, que inutiliza o cavalo.
Depois que o animal retornar do exercício, deixe-o descansar por 10 a 15 minutos e em seguida dê uma ducha. Essa ducha traz bastante conforto para o cavalo, pois o seu suor é rico em sais minerais que, quando acumulados na pele, causam irritação e assaduras. O banho completo, com o uso de produtos específicos como xampus e outros, só deve ser dado de preferência de 15 em 15 dias, ou só quando o animal estiver bem sujo. Se esses produtos forem usados com muita frequência, podem retirar o brilho da pelagem, diminuindo a oleosidade natural.
O cavalo
O cavalo é um corpo cilíndrico, que possui três movimentos tridimensionais: horizontal - de trás para frente, vertical - de baixo para cima e basculante - de um lado para outro, tem sentimento e expressa reações.
As três andaduras do cavalos são: Passo - andadura em quatro tempos, lateralizada e simétrica; Trote - andadura em dois tempos, diagonalizada e simétrica; Galope - andadura em três tempos, saltada e assimétrica.
Figura 02 - Cavalo ao passo. |
O passo é a andadura mais favorável ao estabelecimento da linguagem convencional entre o cavaleiro e o cavalo , em virtude das fracas reações que produz no assento do cavaleiro, permitindo assim uma intima ligação entre ambos e, portanto que as indicações do cavaleiro sejam absolutamente precisas. E bom lembrar que no passo o sistema nervoso do cavalo está pouco excitado e o sistema muscular fracamente tenso, o que coloca o cavalo em bom estado de receptividade.
Figura 03 - Cavalo ao trote. |
Trote - É uma andadura em dois tempos, simétrica, diagonalizada, na qual os membros de cada bípede diagonal se elevam e pousam simultaneamente, separados por um tempo de suspensão entre o pousar de cada diagonal.
O Trote é considerado a andadura essencial do adestramento pois seus movimentos são simétricos; os movimentos do pescoço são praticamente inexistentes; conserva atitude de conjunto quase constante, principalmente na disposição da coluna; mantém o cavaleiro informado, constantemente, sobre o grau de sustentação do seu cavalo; além de apresentar reações pouco variáveis e persistentes em suas manifestações , o que permite uma rápida intervenção do cavaleiro no sentido de restabelecer a sustentação da andadura.
Figura 04 - Cavalo ao galope. |
Galope - é uma andadura a três tempos, saltada, assimétrica e muito basculada, executado em diagonal a cada grupo de três batidas e separado do seguinte por um intervalo de tempo/ e projeção durante o qual o corpo fica “no ar”, sem base no solo.
Das andaduras do cavalo, a que mais sofre na sua forma no início do treinamento é o galope. O desequilíbrio causado pelo peso do cavaleiro, potencializado pelo fato do galope ser uma andadura assimétrica, faz com que se acentuem as diferenças entre os lados do cavalo. O galope é, então, a andadura onde é mais difícil de obter o endireitamento.
Diferentemente do trabalho de transições, para o galope ou a partir do galope, que só deve ser enfrentada quando o cavalo já tiver um certo desenvolvimento nos trabalhos de passo ou trote, o aperfeiçoamento do galope deve ser trabalhado tão logo o cavalo esteja em condições de tomar esta andadura, nos dois pés, seja a partir do trote ou a partir do passo.
Aquecimento do cavalo
Para iniciar os trabalhos devemos realizar o aquecimento do cavalo com a guia. A descontração é a primeira meta a se alcançar. Par isso devemos realizar o passo, o trote e o galope onde o cavalo consegue achar a sua cadência e equilíbrio sem o peso do cavaleiro.
A colocação de pescoço e cabeça no princípio é natural e livre. Se houver rédeas auxiliares estas devem estar soltas e sem interferência.
No "passo", na fase de aquecimento com pelo menos 5 minutos, o cavalo se descontrai alongando o seu pescoço e as costas, sem tensões. A segunda andadura a ser pedida é o "trote", ainda na fase de aquecimento, a seguir um pouco de "galope".
Cavalo - Calmo, reto, impulsionado e submisso
Figura 05 - Cavaleiro em contato com o cavalo. |
- Calmo - o cavalo deve estar acostumado com o peso do cavaleiro, com o ambiente, tranquilo e equilibrado;
- Reto - o cavalo deve marchar com os posteriores alinhados aos anteriores nas três andaduras, a cabeça e o pescoço devem se mover em bloco;
- Impulsionado - a menor pressão de perna do cavaleiro deve avançar o cavalo para frente, lembrando que a pressão começa com a coxa, joelho e depois a panturrilha do cavaleiro;
- Submisso - o cavalo deve estar pronto a obedecer as ajudas do cavaleiro, sem nenhuma reação ou vontade própria, na submissão chegamos a parte principal do trabalho que nos dará parâmetros de sensibilidade e simetria nas andaduras do passo e trote e assimetria do galope.
Cavalo - Contato, apoio, descontração e extensão
Para guiar o cavalo, o cavaleiro deve realizar o "CADE" para verificar a obediência e grau de sensibilidade do cavalo:
- Contato - Ligação das mãos do cavaleiro á boca do cavalo realizada através das rédeas, executada de maneira constante e flexível, com a rédea entre os dedos;
- Apoio - Resposta do cavalo ao contato, onde o cavalo pesa na mão do cavaleiro, mas não oferece resistência, com a abertura da rédea em formato de funil;
- Descontração do maxilar - onde o cavalo relaxa a boca e movimenta a língua deixando a rédea leve, com a vibração das rédeas e por ultimo;
- Extensão do pescoço - onde o cavalo estende sua coluna, provocando o correção da curvatura natural do cavalo, alongando o pescoço, com o contato alternado das rédeas.
Levando em consideração o movimento horizontal do cavalo, devemos canalizar toda energia provocada pelos posteriores e pelo deslocamento da massa para a boca do cavalo, a descontração do maxilar é conseguido com o apoio colocando as rédeas em "funil", afastando as mão até a altura do joelho, ao menor sinal de descontração do maxilar (D1) retornar as mãos, á distância do ombro.
Levando em consideração o movimento vertical do cavalo, após realizar o apoio, devemos tornar as rédeas leve através da "vibração" das mãos, massageando o maxilar, enquanto uma mão provoca a vibração a outra resiste, até que ocorra a descontração do maxilar (D2) .
Levando em consideração o movimento basculante do cavalo, a descontração do maxilar (D3) ocorrerá após o cavalo realizar o flexionamento da garupa, através de execução de círculos pequenos (inferior á dez metros de diâmetro) na pista, utilizando a rédea direta de abertura para a execução de um circulo pequeno, colocando a perna de dentro na posição de 90 graus em relação a flanco do cavalo.
Já a extensão do pescoço é conseguida provocando tensão nas rédeas alternadamente, resistindo hora de um lado, hora de outro, com isso a cavalo irá estender o pescoço, buscando o apoio ás rédeas longas chegando á tocar com o focinho no chão.
Ajudas naturais e artificiais
Figura 06 - Ajudas naturais na equitação. |
As ajudas artificiais devem ser usadas muito suavemente no início e usadas com mais força se o cavalo não prestar atenção em você.
As ajudas naturais utilizadas para tornar o cavalo submisso são as pernas, mão, voz e peso do corpo, já as ajudas artificiais são ás rédeas, chicotes e esporas.
- Pernas: servem para impulsionar o cavalo. São o acelerador do animal; sua ação pode ser reforçada pelo emprego simultâneo da espora, chicote e/ou estalos de língua.
- Mãos: servem para direcionar a impulsão gerada pelas pernas. A ação das mãos suaves, elásticas e discretas distingue um bom cavaleiro de um medíocre.
- Voz: Peça para o cavalo anda com a voz num tom natural de forma clara e suave, dê tempo ao cavalo para responder à ajuda. Diga novamente com a voz mais forte que a inicial se o cavalo não responder. Determine que ele obedeça através de uma ajuda artificial, com um chicote atrás da perna.
- Peso do corpo: Com o movimento do corpo, podemos facilitar a tomada pelo animal de determinados movimentos, mediante a sobrecarga ou alívio de nosso peso sobre a massa do cavalo.
- Ajudas artificiais: enredeamentos especiais: rédea fixa, rédea Chambon, rédea Thiedmann, rédea alemã e a rédea Colbert: chicotes e esporas, por exemplo, servem, quando bem utilizadas, para abreviar a duração de um trabalho específico para a obtenção de um determinado objetivo.
Exemplo de uso correto das ajudas: Quando você pedir uma transição de passo para trote, use as ajudas na seguinte ordem:
- Peça: Aperte ambas as pernas suavemente na circunferência da barriga do cavalo.
- Aguarde: Espere alguns segundos para o cavalo responder.
- Diga: Use as duas pernas mais fortes na circunferência da barriga do cavalo se ele cavalo não começar a trotar. Espere alguns segundos para o cavalo responder.
- Determine: Use um auxílio artificial, como um espora ou um chicote atrás da perna se ele cavalo não começar a trotar.
Figura 07 - Ajudas com rédeas direta de oposição e contrária atrás do garrote. |
As rédeas contrárias controlam os movimentos laterais, incluindo flexão e giro. A mão do cavaleiro não cruza a linha da crina no centro do pescoço.
- Rédea direta de abertura - A mão de dentro se move para fora se distanciando do pescoço do cavalo, o que puxa o cavalo para perto dessa rédea fazendo a curva do lado da rédea. Esta é uma ajuda avançada que pode ser útil ao virar o cavalo.
- Rédea direta de oposição - A mão de fora se move para dentro em direção à cernelha do cavalo e pressiona o pescoço do cavalo, o que empurra o cavalo para longe dessa rédea fazendo a curva do lado oposto a pressão da rédea. Esta é uma ajuda avançada que pode ser útil ao virar o cavalo.
- Rédea contrária de apoio - Uma das mãos segura as rédeas e se move na direção da curva desejada. A rédea de fora pressiona o pescoço do cavalo, o que empurra o cavalo para longe dessa rédea. Isso é eficaz para o controle avançado da espádua do cavalo, especialmente em curvas fechadas.
- Rédea contrária na frente do garrote: Move o peso do cavalo de um ombro para o outro. Com uma rédea contrária esquerda na frente da cernelha, a mão esquerda do cavaleiro se move em direção ao quadril direito do cavaleiro.
- Rédea contrária atrás do garrote: Move o peso do cavalo de um ombro para a perna traseira oposta. Em uma rédea contrária esquerda atrás do garrote, a mão esquerda do cavaleiro se move em direção ao quadril direito do cavalo.
Figura 08 - Ajudas de perna que encurva e desvia. |
Temos três efeitos de pernas, sendo duas isoladas e uma simultânea: perna isolada que encurva, e perna isolada que desvia, e pernas simultâneas que impulsionam.
- Perna isolada que encurva: Aplicado na cilha (parte de baixo da barriga) para evitar que o cavalo caia. Também pode ser usado para mover o cavalo lateralmente (lateralmente). Aplicado com uma perna de cada vez, muitas vezes usado no interior de uma curva para flexão do cavalo. A perna de apoio também pode ser usada para manter o cavalo em uma linha reta.
- Perna isolada que desvia: Ao exercer pressão da perna movimentando ela ligeiramente atrás da circunferência da barriga do cavalo é usado para movimentar a anca do cavalo em voltas e para movimentos laterais. Também pode ser usado para evitar que o cavalo entorte para um lado.
- Pernas simultâneas que impulsionam: Aplicado na circunferência da barriga do cavalo para estimular a impulsão, que é o movimento de um cavalo quando está avançando com força controlada. Ambas as pernas do cavaleiro podem ser aplicadas ao mesmo tempo para impulsionar o cavalo em uma transição do passo paro trote ou para alongar sua marcha .
Figura 09 - Ajudas de pernas, mãos e peso do corpo para deslocar a espádua. |
Movimentos na pista
Para mudar a direção do movimento do cavalo na pista podemos realizar a meia volta e invertida meia volta, para realizar este movimento devemos ter como referência a cerca da pista. Se o cavalo oferecer resistência ao movimento deve ser realizado a meia parada.
Alongamento e flexionamento
O alongamento do pescoço faz trabalhar, ao mesmo tempo, os músculos abaixadores do pescoço no bordo superior. O flexionamento ou encurvação do pescoço obriga ao alongamento de um dos abaixadores, sempre do lado externo em relação à mão em que se trabalha.
Figura 10 - Ajudas de pernas e mãos para impulsionar e parar. |
Pediremos ao nosso cavalo, inicialmente, a extensão do pescoço em estação, cavalo parado, por meio de tensões com a rédea direta, de baixo para cima. Quando o cavalo cede o maxilar a alonga o pescoço na situação acima, partimos para a solicitação em movimento.
Fazendo as descontrações e extensão, o cavalo terá elasticidade e flexibilidade da extremidade anterior, terá realizado alongamento no dorso e rim, aumentará o engajamento dos posteriores, elevará a base do pescoço, terá liberdade das espáduas, amplitude e cadenciamento das andaduras. estando preparado para o “ Ramener ”- posição vertical do chanfro do cavalo, acompanhada de elevação máxima do pescoço.
Cavalo no "Ramener"
Um cavalo com a cabeça colocada é mais agradável e muito mais fácil de ser conduzido nas provas de salto, já que nas provas de adestramento não se admite a hipótese de um cavalo não estar com sua cabeça colocada no ramener.
Figura 11 - Cavalo em "ramener" |
Para que nosso cavalo tenha a cabeça colocada no "ramener", a ginástica de extensão de pescoço, bem como sua flexão (à direita ou esquerda), serão pontos de passagem obrigatória de nosso trabalho.
Cavalo no "Rassembler"
Em adestramento o cavalo deve trabalhar em bases curtas, isto é numa atitude muito mais avaliado que nas outras modalidades, o que não quer dizer que não se deva saber transitar para os andamentos largos.
É por esta razão que além dos posteriores estarem sob a massa com a consequente elevação da frente e dos movimentos, deve haver ainda, para se chegar ao adestramento, mobilidade, flexibilidade dos músculos e articulações e ligeireza.
O “ Rassembler ” diz respeito ao grau de entrada dos posteriores para debaixo da massa, mais do que a sua posição de aprumado.
Figura 12 - Cavalo em "rassembler" |
Uma das características mais marcantes do trabalho de adestramento é deixar o cavalo “na mão”. Um cavalo que está “na mão” é um animal que apresenta pescoço levemente elevado, aceita a embocadura sem resistência, se mostra macio e submisso. O equino mantém a sua cabeça em atitude fixa com seu chanfro ligeiramente à frente da vertical. Um cavalo que alcança esse patamar de adestramento não oferece nenhuma resistência ao cavaleiro.
O adestramento trabalha no desenvolvimento da elegância dos animais, o uso de acessórios ganha outro significado com esse preparo. Equinos adestrados têm uma cadência única para caminhar e se apresentar com muito refinamento. A submissão ao cavaleiro faz com que esses animais assimilem mais facilmente o que precisam fazer em cada situação.
O Manual Equitação da Federação Paulista de Hipismo está disponível em: 22_01_01 Manual Equitação da Federação Paulista de Hipismo.
© 2023: Gomes; Sinésio Raimundo. Última atualização: 15/07/2023
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