terça-feira, 4 de abril de 2017

Revoltas do Brasil - 1562 - Confederação dos Tamoios

A primeira rebelião de que se tem notícia foi uma revolta de uma coligação de tribos indígenas - com o apoio dos franceses que haviam fundado a França Antártica - contra os portugueses. O movimento foi pacificado pelos padres jesuítas Manuel da Nóbrega e José de Anchieta.
Confederação dos Tamoios - Os dois lados comemoraram
o tratado, porém a paz durou pouco: os índios foram traídos.
Os tupinambás ocupavam a região litoral norte paulista, onde hoje fica situada a cidade de Bertioga, passando pelo litoral fluminense até a cidade do Cabo Frio.
Os portugueses procuravam alguma maneira de se infiltrar nas aldeias indígenas, participando de suas decisões através do ato conhecido como cunhadismo. Ou seja, os portugueses se casavam com as índias e, automaticamente, faziam parte da tribo.
Aproveitando dessa prática, João Ramalho, parceiro do governador da Capitania de São Vicente, Brás Cubas, casou-se com uma filha da tribo dos guaianases. Através dessa parceria, eles comandaram um ataque à aldeia dos tupinambás, na tentativa de aprisioná-los e usá-los como mão-de-obra escrava. Eles capturaram o chefe da tribo, Caiçuru, e o mantiveram em um cativeiro no território do governador Brás Cubas.
Preso em péssimas condições de sobrevivência, o tupinambá Caiçuru acabou morrendo no cativeiro. Seu filho, Aimberê, assumiu o comando da tribo e declarou guerra aos colonos portugueses e à tribo dos guaianases. Para fortalecer o levante, ele se reuniu com os membros tupinambás Pindobuçu, da Baía de Guanabara, Koakira, da aldeia de Ubatuba, e Cunhambembe, de Angra dos Reis.
Cunhambembe assumiu a liderança da Confederação dos Tamoios (que vem do tupi Tamuya, que quer dizer "o mais antigo") e conseguiu o apoio das tribos goitacases e aimorés. Neste momento, os franceses estavam chegando no Rio de Janeiro, na intenção de colonizar territórios brasileiros e extrair suas tão faladas riquezas.
Para patrocinar o conflito contra os portugueses, o francês Villegaignon ajuda os tupinambás oferecendo armamentos a Cunhambembe. Porém, uma epidemia dizimou alguns indígenas combatentes, inclusive o líder Cunhambembe, enfraquecendo enormemente o levante.
Aimberê continuou a revolta contra os portugueses e fez o possível para que os guaianases lutassem a seu favor. Ele fez contato com o líder Tibiriçá, através do sobrinho Jagoanharó, e marcou um encontro para selar a Confederação. Quando os tamoios chegaram na aldeia, Tibiriçá se declarou fiel aos portugueses e matou seu sobrinho, suscitando em uma investida que dizimou grande parte da tribo dos guaianases.
Apesar de algumas tréguas, os portugueses se fortaleceram e continuaram a invasão às aldeias para escravizar e aprisionar os índios.
Um breve período de paz aconteceu após a “assinatura” do tratado. Tudo que é bom dura pouco e um ano depois das negociações os portugueses romperam o acordo, voltando a sujeitar os índios capturados a trabalhos escravos, com isto a guerra começou onde tinha acabado um ano antes, em Iperoig. Lá houve a invasão das duas aldeias de Coaquira, que foi morto. Depois destruíram as de Araraí.
Os portugueses não só escravizavam para os engenhos, mas também para as expedições de ouro.
Anchieta por determinação da Coroa muda seus interesses, e inflama o governador geral do Brasil, Men de Sá na sua empreitada de retomar seus interesses patrimoniais. O governador cria o Comando das Operações de Extermínio dos Confederados, de forma a liquidar o poder que os índios haviam conquistados de forma diplomática.
No dia 8 de janeiro de 1567, com o reforço de três galeões vindos de Portugal e dois navios de guerra bem armados, Men de Sá dá inicio a chacina. A matança foi encerrada no dia 20 de janeiro do mesmo ano, dando por fim a cruzada contra os índios. Ao que se sabe, os Tamoio nunca cederam à quebra do tratado, mantiveram-se fiéis ao que tinha sido acordado com os “pêros” e aos “mairs” - franceses que mantinham um melhor relacionamento com os índios do litoral.
Men de Sá, que solicitou a intervenção de um tratado, agora massacrou os índios que a muito tempo foram considerados os “Filhos da Terra”, que eram homens destemidos, indomáveis na guerra, mas de palavra, sensíveis às negociações, compreensivos no trato dos acordos.
O massacre é pouco divulgado, mas quem procura saber da história descobre a traição dos “pêros”. O Tratado de Paz passou a figurar na História do Brasil como a “Paz de Iperoig”, o primeiro tratado de Paz das Américas e o primeiro trabalho de acordo concluídos em terras americanas, que assim pode ser entendida na iniciativa de seu destino histórico: marco inicial da generosa política brasileira de resolver pendências através de tratados, na mesa, no caso especifico - na Óca das conferências.
Em 1567, a chegada de Estácio de Sá ao território do Rio de Janeiro provocou a expulsão dos franceses e dos tamoios, encerrando o conflito. Após este episódio, os portugueses chegaram a conclusão de que era praticamente impossível escravizar indígenas e decidiram importar escravos de navios negreiros africanos.

3 comentários:

  1. Perdão, mas Tamoios não se tratava de uma etnia ou algo assemelhado. Convém expor que Tamoio ou Tamoiós foi um nome dado à Confederação onde se uniram para desbancar aquela portuguesada mal intencionada e aqueles franceses idem, idem.

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  2. Desculpe a insistência... É importante que historiadores ou gente do tipo, resgatem essa verdade ou seja TAMOIOS nunca foi e jamais existiram como tribo ou algo parecido. É importante que seja divulgado para pessoas que lêem ou estudam nesse país de analfabetos funcionais que o título CONFEDERAÇÃO DOS TAMOIÓS foi uma reunião para resistirem aos desmandos daquela ocasião...

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  3. Quando a cegueira ideológica é grande claro que o resultado é um texto enviesado, uma história romântica de "vitimizados mas heróicos nativos" contra os "mal intencionados, vilões e colonizadores portugueses", não é mesmo?

    João Ramalho chegou no Brasil por volta de 1510, como um dos poucos representantes portugueses que fizeram parte do interregno entre o encontro do Brasil em 1500 e o primeiro esforço efetivo de colonização do Brasil em 1533. Durante esses 33 anos o Brasil não era mais que um ponto de passagem para a volta do Largo rumo à Índia (esse sim, o verdadeiro foco da política expansionista portuguesa à data) e exploração de algumas matérias, como o Pau-Brasil. Nessas passagens alguns (poucos) homens ficavam em representação da coroa, e João Ramalho terá sido um desses homens. Naturalmente, esses homens acabavam por se aproximar das tribos, devido às trocas comerciais regulares e por força das suas próprias circunstâncias, e em 23 anos constitui família, se tornando efetivamente num membro dos tupiniquins, vivendo junto deles, participando do seu quotidiano. A prova disso é que João Ramalho foi excomungado pelos primeiros Jesuítas por andar nu, ter várias mulheres, entre outros hábitos indígenas. Muito antes dos Portugueses chegarem em 1533 para estabelecer a primeira Capitania no Brasil, já João Ramalho, como qualquer outro índio, participava em incursões a tribos indígenas rivais dos Tupiniquins e capturava escravos, do mesmo jeito que tribos rivais sempre tentaram ripostar de igual maneira.

    Mas claro, o olho cínico vê na história de João Ramalho um mero manipulador "cunhadista", recém-chegado ao Brasil (o que é falso!) e que casou aleatoriamente e por conveniência com uma filha de um Chefe indígena a fim de ser um membro de fachada de uma tribo que pudesse usar como mero peão para capturar escravos ao serviço dos Portugueses, não é mesmo?

    De seguida chuta uma execrável interpretação da "traição" do índio Tibiriçá à causa Tamoia. Quando na realidade Tibiriçá se limitou a aproveitar da ocasião para chacinar (de forma calculista e cobarde, sim) um aglomerado de tribos que historicamente sempre foram suas inimigas e reiterar lealdade ao seu familiar de há largos anos João Ramalho e aos seus aliados Portugueses, da qual sempre teve estima, aceitando ser batizado com o nome de Martim Afonso somente para honrar o líder da Capitania portuguesa.

    Tudo isto veio a culminar no cerco de Piratininga, que nada mais do que o climax de uma velha guerra tribal, muito mais antiga que os portugueses, em que os velhos rivais dos Tupiniquins, ameaçados pela cada vez mais forte aliança com os portugueses, decide investir contra os mesmos, sendo chacinados no processo. Na realidade, ao contrário da crença popular, Portugal neste caso limitou-se
    a herdar as mesmas rivalidades passadas dos seus aliados indígenas.

    Mas claro, a histografia insiste na velha narrativa dos portugueses exploradores que vitimizavam os indígenas, ajudados por um conjunto de tribos tupuquins, ora descritas como inocentemente manipuladas, ora descritas como traidoras, pois é mais fácil um argumento a "preto e branco", que aconchegue o ego nacionalista, quando a realidade sempre foi, sempre será cinzenta.

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