terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Enforquei Joana D'Arc.

Aconteceu no interior de minas na cidade de Congonhal-MG na quaresma, nos anos 80's, estávamos apresentando uma versão de teatro dirigida pelo pároco local no Salão Paroquial de nome “Processo contra Joana”, ao vivo, salão lotado, pais, tios e comunidade local presente  com Leninha vivendo Joana d'Arc. Nosso colega Rina era o ator que vivia o bispo Cauchon, que condenou a heroína a morrer queimada.
Havíamos realizadas diversas encenações, todos os atores principais tinha o roteiro de cor e salteado, feito pelo pároco que também era o diretor. Tudo estava ensaiado nos mínimos detalhes. A cenografia havia sido preparada com muito cuidado, Leninha poderia ser até confundida com uma tipica francesa, embora seu lindo sorriso e o belo cabelo lisos contrastaste com a figura triste da Donzela de Orléans". Seu figurino era típico de uma chefe militar da Guerra dos Cem Anos. Havia uniforme vermelho do exercito dos Armagnacs que na encenação tinha Ricardo como líder, e azul dos borguinhões e seus aliados ingleses. O palco foi montado representando uma típica praça francesa do ano de 1431. Estávamos lá, quase cinco séculos depois prontos para queimá-la viva em um auto de fé.
Fui convidado para atuar como coadjuvante, seria um dos soldados que levaria a Joana d'Arc até a fogueira onde Cauchon a queimaria. Entrava mudo em cena e saía calado, não estava contente com minha pequena atuação, achava que merecia mais destaque embora tenha sido convidado mais pela beleza física do que pelo talento no palco.
Fogueira pronta para ser acesa, Joana d'Arc entregue a Cauchon, encerraria ali minha participação. Cauchon tenta acender a fogueira pela primeira vez, o fósforo quebra, tenta a segunda novamente falha, na terceira tentativa derruba a caixa e os palitos restante se espalha pelo chão. Neste instante tive um insight, e próximo a sair de cena gritei “-Enforca ela, Rina”
Nesse momento todo mundo veio a loucura, risadas, gargalhadas, gritos. O diretor apareceu em cena e disse “Monsenhor, não seria melhor queimá-la?” . Mas ninguém mais prestava atenção, tendo como única saída fechar a cortina.
Não aparecemos para receber os aplausos...

Nenhum comentário:

Postar um comentário